Sacrifícios
Hoje ao vir trabalhar ouvi na radio que, segundo os resultados de um inquérito à população portuguesa, embora as pessoas estejam preocupadas com o futuro do planeta e das gerações futuras, quando confrontadas com escolhas na sua vida prática não estão dispostas a fazer sacrifícios (leia-se, não estão dispostas a alterar a sua vidinha, que fazer sacrifícios é coisa maior) em função da melhoria da vida de todos. No telemóvel só vejo notícias de cientistas preocupadíssimos com o aquecimento global, não sei se é o meu telemóvel que só me mostra notícias relacionadas com o ambiente porque é um tema que me interessa, ou se a maioria das pessoas não liga à comunidade científica, mas o que mais vejo é inação, dos indivíduos e dos colectivos. Eu ando a tentar reduzir, ando a falar com os outros dando-lhes sugestões e politicamente ando o mais verde possível. Mas isto às vezes parece meia dúzia de gente a tentar mover uma montanha onde estão sentados milhões de pessoas. Será uma tarefa impossível até que essas pessoas se levantem e saiam de cima da montanha (mesmo assim vai ser difícil!). Tenho ido profissionalmente a algumas conferências onde se tem abordado o assunto e para meu espanto os técnicos e decisores já aceitaram muitas das consequências e estão a preparar o território, as construções e as leis para o que aí vem de fogos, inundações e escassez de água, enquanto no planeta continua a aumentar o efeito estufa sem diminuição à vista. Tudo isto me parece um pouco esquizofrénico! A humanidade já passou por alguns episódios psicóticos, resta saber se vai sobreviver ao que se está a aproximar.
No outro dia fui a uma consulta porque estava com um problema de estômago, mal acabei de falar o médico começou a receitar-me uns comprimidos. Eu perguntei-lhe se não havia maneira de resolver a questão sem recurso a drogas. O médico parou de escrever, pediu-me desculpa e disse que já estava demasiado habituado às pessoas quererem apenas remédios que resolvessem o problema sem alterar os seus hábitos. Receitou-me uma dieta e agora estou melhor. Sei que os remédios nos salvam a vida (já salvaram a minha) mas não são inócuos, têm efeitos secundários (razão para alguns dos meus problemas) e o seu uso deve ser bem pensado e quando possível evitado. O mesmo raciocínio se aplica ao efeitos que a nossa vida tem no ambiente e no planeta.