Pescadinha de rabo na boca
Nos últimos anos tenho chegado à conclusão que os portugueses, nos quais eu me incluo, não tinham ainda interiorizado o conceito do estado ser o conjunto de todos nós. É uma entidade demasiado grande para se parecer com a pessoa que sou eu e os outros. Por isso era (ainda é?) aceitável fugir aos impostos, danificar património e ser passivo em relação ao que o estado faz com dinheiro de todos. Mais distante que o estado estavam os bancos e mais ao longe ainda as empresas. Se se faziam empréstimos que não se podiam pagar, o problema era apenas de quem ficava na falência e dos bancos que eram ricos. Se não se pagavam compras que se tinham feito o problema era apenas de quem ficava com os bens penhorados e das empresas que eram ricas.
Claro que teoricamente sabiamos, mas de saber a saber vai uma grande diferença.
Veio a crise. E afinal não era bem assim. Se uma pessoa compra e não paga, mais cedo ou mais tarde pagamos todos, se alguém pede dinheiro para entrar num negócio que não dá certo e vai à falência, mais cedo ou mais tarde pagamos todos, e se o estado não recebe os impostos que precisa de alguns, mais cedo ou mais recebe-os de todos. A economia é uma pescadinha de rabo na boca, mas uma pescadinha viva, que não pode parar, com risco de não conseguir depois arrancar novamente.
A solução é estarmos todos mais conscientes e pedir responsabilidade a quem tem de tomar decisões. Se um médico fizer asneira grossa vai a tribunal por negligência e pode perder a carteira profissional, assim como muitas outras classes profissionais. Então políticos, gestores, banqueiros, bancários, etc também deviam ir a tribunal por fazer asneira grossa. Ou ficar sem a carteira profissional. Talvez assim todos tiríamos mais consciência.