Tenho andado a pensar como seria o meu voto se houvesse um referendo à eutanásia e nas minhas razões. Descobri que tenho tendência a orientar a minha vida por questões práticas. Embora me imagine uma defensora de princípios acertivos, a verdade é que quase todas as decisões que tomo são práticas. No referendo para a legalização do aborto votei sim, embora na teoria não concorde com o mesmo, nem mesmo concordo que se aborte fetos que apresentam deficiências como síndrome de Down, etc... Mas na prática salvaram-se vidas de mulheres e isso é mais importante que salvar fetos que ainda não têm uma existência definida. Se houver um referendo para a legalização da eutanásia votarei não, embora na teoria concorde que uma pessoa em sofrimento profundo que não consiga se suicidar possa ter ajuda para morrer. Mas na prática, e nos países em que essa prática se implementou, nasceram clínicas que ajudam a morrer pessoas que não estão em sofrimento profundo, organizam-se festas de despedida para pessoas que se querem suicidar e estão a facilitar o processo de tal forma que pensam em dispensar o parecer do médico para o fazer. Na prática acabam-se vidas.
Ando muito chata em questões ecológicas. Chata em conversas de almoço, chata em conversas em família, chata em reuniões, chata em festas e por aí fora. "Descobri" há uns anitos que embora haja bloguers e instagrammers que já atingiram o "lixo zero" e comentadores que já acham que o assunto está debatido até à náusea, no mundo real a grande maioria da população está a marimbar-se para a questão e uma fatia considerável das pessoas, mesmo das que estão à minha volta, nem reciclagem faz.
Sendo assim, transfigurei-me numa velha chata (a minha verdadeira vocação) e ando a chatear as pessoas sobre reduzir, poupar energia, comprar português e outras coisas que tais. Às vezes coisas simples como "lugar do lixo é no lixo", outras coisas complicadas como painéis fotovoltaicos e produção de energia para autoconsumo.
A maioria das vezes não dá em nada, nem consegui convencer o mais rico dos meus amigos a comprar um carro eléctrico, nem alguns primos a fazer reciclagem,...
Mas aqui e acolá resulta, e sei que além do que já mudei eu, tenho um ou dois amigos que mudaram como eu aqui e acolá, já houve um grande piquenique em que não se compraram pratos e talheres de plástico por pressão minha, e endoideço quem me quer comprar algo porque sabe que eu ando a ver etiquetas para saber se a coisa é made in Portugal.
E ontem fiquei especialmente feliz. O meu irmão, que por razões profissionais faz algumas viagens de avião no país, decidiu passar a andar sempre de comboio, apesar dos bilhetes serem mais caros e o tempo gasto ser maior. E embora eu saiba que o mano também está preocupado com o ambiente (talvez mais do que eu), também sei que em muito contribuiu eu própria ter decidido abdicar do avião e optar pelo comboio nas férias, coisa que já concretizei com a minha viagem a Barcelona no Verão.
Passei um óptimo fim-de-semana. Tinha pensado vir aqui escrever alguma baboseira sobre o bom que tinha sido. Mas antes que o fizesse a vida pregou-me mais um susto. Pensei "ainda bem que aproveitei os últimos dias". Depois pensei "de que me valiam os dias de felicidade se o susto fosse mais que isso e eu ficasse infeliz". E depois pensei que penso muito nisto e que não vale a pena o tempo que perco a fazê-lo. Por isso não pensei mais nada. Mas também não consegui escrever as baboseiras que tinha planeado. Escrevi outras...