É difícil perceber o que é certo e errado hoje e aqui e o que continuará a ser certo e errado amanhã e acolá.
Penso nisto a propósito do Rui Pinto.
Que direito tinha o Rui Pinto de invadir a privacidade de outros? Nenhum? A vontade de um indivíduo de conhecer a verdade por detrás da evidente mentira justifica esse direito? E um investigador da polícia? Que direito tem de invadir a privacidade de outros? Todo? A vontade de um indivíduo de conhecer a verdade por detrás da evidente mentira justifica esse direito? Qual a diferença entre os dois indivíduos? A profissão? O título? Se a mentira era evidente e danosa e o propósito é a sua exposição porque não admitimos que um o faça e pagamos ao outro para o fazer? Porque privilegiamos a moral à ética?
E a propósito de Isabel dos Santos.
Que direito tinha a Isabel de ser rica à custa do seu país? Nenhum? Sendo filha do homem que governou Angola por décadas não tem direito a usufruir das riquezas do país como sendo sua herança? E um príncipe árabe? Que direito tem de ser rico à custa do seu país? Todo? Sendo filho do homem que governa não tem direito a usufruir das riquezas do país como sendo sua herança? Qual a diferença entre os dois? O regime do país? A queda do rei? Se o dinheiro é todo ele gerado pelo país e ursurpado pelo indivíduo porque consideramos que um é sujo e o outro apetecível? Porque privilegiamos a moral à ética?
Estive há uns dias numa reunião de antigos amigos. Hoje como ontem vi gente aos murmúrios e sorrisinhos privados. Antes imaginava o que estariam a coscuvilhar com tanto interesse e se seria sobre mim. Hoje não estou para palermices e imagino-os em provocações eróticas!
Não tenho por hábito transcrever para este espaço textos de autores. Mais do que o desábito, é coisa que não gosto. Mas gosto muito deste poema de Fernando Pessoa, e nos últimos anos vem-me, volta e meia, meia volta, à cabeça. Acho reconfortante achar que um poema que carpe as mágoas de se achar que antes é que achava bem, me diga mais do que a maioria dos poemas que achei dele. E tanta "acha" é devida ao frio que faz e às saudades de uma boa lareira.