Há dois anos, depois de Portugal ter ardido, de ter morrido gente, e não vendo eu qualquer espírito de mudança quer no governo quer nas pessoas, fui a uma manifestação dar o meu contributo para despertar alguma consciência. Estávamos meia dúzia de gatos pingados numa praça imensa, com as câmaras a filmar de perto para não se perceber a desgraça da foto tirada de longe.
Ontem éramos centenas ou milhares (não nos contei) e enchemos ruas! Novos, muito novos, velhos e muito velhos.
Há coisas simples que às vezes me escapam, e depois quando raciocino espanto-me com a minha anterior falta de raciocínio!
Andei um tempo invejosa dos nomes das crianças deste tempo, que são tão mais bonitos que os dos adultos da minha geração. Depois raciocinei e percebi que fui eu e as crianças de ontem que demos o nome às crianças de hoje!
O meu filho mais novo começou as aulas a semana passada, num novo ciclo, numa nova escola e sem nenhum menino conhecido a seu lado. Descobri hoje que houve um dia, enquanto esperava na fila para a cantina, em que ficou aflito com a demora e começou a chorar. Valeu-lhe a funcionária que o ajudou e acarinhou. Não sei quem foi para lhe poder agradecer, por isso fica aqui o meu muito obrigado a todas as funcionárias que ajudam os alunos nesta fase mais complicada do seu percurso.
Estávamos a meio de um almoço em família a debater esta e aquela greve quando o meu filho mais novo sai-se com esta: "e se os ladrões e assassinos fizessem greve? isso é que ía ser um problema!". Tentámos explicar-lhe que não, que isso seria uma coisa boa, mas o rapaz bateu o pé e disse "eram logo três classes profissionais sem trabalho, os polícias, os advogados e os juízes, e isso é muita gente no desemprego, mais vale que os ladrões e assassinos não façam greve!"
E pronto, não sei muito bem que orientação política o rapaz terá mas lá tem a sua razão.