Hoje, durante uma discussão política com um rapaz que estava a dizer umas barbaridades sobre um tempo em que a mãe dele ainda era uma criança, disse-lhe cordialmente que ele ainda era muito novo. Cordialmente me respondeu que já não era tão novo assim. Pouco depois disse que infelizmente os jovens da geração dele não tinham opinião política. Disse-lhe cordialmente que talvez (se é para pensarem como ele mais vale não terem opinião!). A conversa continuou cordial e depois acabou. Agora, passadas horas estou a dar uma chapada na testa e a fazer mea culpa. Quando eu disse que ele era muito novo foi porque ele era novo demais para falar com tanta certeza sobre um tempo que não viveu, mas acho que ele entendeu que eu achava que ele era novo demais para ter opinião. E assim se propagam mal entendidos. Como podemos nos entender neste mundo em guerra se nem cordialmente o fazemos!
Às vezes (muitas) ponho-me a pensar na vida. Depois vejo que não chego a lado nenhum. Em seguida arranjo coisas para fazer. Aqui e acolá vejo mais gente a pensar na vida. Tentam isto e mais aquilo que dizem que remedeia a questão. Depois arranjam coisas para fazer. Fico contente quando as coisas que os outros fazem são iguais às que eu faço. E assim se vive!
Muito se tem falado de aquecimento global, incêndios, plásticos, ... das más notícias que estão a acontecer.
Mas será que não há boas notícias?!
Há. As pessoas estão a mudar. Talvez nem todas, talvez não o suficiente, talvez tarde demais, mas muitos de nós estão a fazer pequenas e grandes mudanças no seu quotidiano. Tem-se debatido muito o tema, quer na comunicação social, nas redes sociais, em família ou com os amigos. Tenho dado sugestões aqui e ali e recebido outras tantas, e tenho mudado a forma como vivo, a família e amigos também. Talvez tudo isto seja pouco, talvez venha tarde demais, ou talvez não!
Quando ardeu Portugal a culpa era da proteção civil e da ministra. Quando ardeu a Califórnia a culpa era dos agricultores. Agora que arde o Brasil a culpa é das ONG's. Talvez quando não sobrar nada e arderem as cidades a culpa seja de Deus! Que isto da culpa ser de todos é coisa pouco nossa.
Sempre gostei de ficção científica. Novas eras, novos povos, novos planetas...Provavelmente cada um de nós terá algum tema de ficção cientifica que mais lhe agrade, sejam as viagens no espaço, no tempo, os superpoderes, os robots, o teletransporte (o preferido do meu filho), etc etc etc. Eu sempre gostei das cúpulas de vidro que cobriam cidades submarinas, cidades no espaço ou cidades da terra protegendo-as de diversos males.
Acho interessante como a realidade se vai aproximando da ficção de outros tempos, mas nunca da mesma forma, e fazendo nós parte activa dessa transformação nunca lhe damos o mesmo cariz negativo (ou positivo) que a ficção nos apresentava. Não sei se me consegui explicar direito, por isso exemplifico: Hoje em dia a nossa vida é quase toda controlada ou passível de o ser. Os nossos dados, os nossos gostos, os passos que damos são vigiados para isto ou para aquilo. Mas embora haja quem diga que vivemos num Big Brother colectivo, a verdade é que a maioria não se sente realmente observada, aprendemos a precisar e até a gostar de estarmos assim controlado porque nos facilita a vida, e não há nenhum ser maléfico que o faz, somos nós todos enquanto sociedade que evoluímos para isto.
Voltando às minhas cúpulas de vidro, embora gostasse da imagem das cúpulas, sempre odiei aquelas histórias em que elas existiam para separar o ar das cidades do ar poluído exterior, criando casulos onde alguns habitantes viviam protegidos enquanto outros pereciam no ambiente seco causado pela poluição das cidades que viviam muito verdes.
Claro que a separação dos mundos entre desgraçados e privilegiados já existia na época em que estas histórias foram escritas, e existe hoje, só que ainda não tinha visto as cúpulas de vidro a cobrir cidades.
Mas ontem ao andar na estrada deparei-me com mais uma casa aquário (assim chama um colega meu às casas em que as paredes são todas de vidro, estão muito na moda!) e lembrei-me das minhas cúpulas de vidro de ficção científica. Afinal não fizemos cúpulas a cobrir cidades, fizemos cúpulas a cobrir móveis e chamamos-lhes de casas. Onde tudo é fresco devido ao ar condicionado, deixando as ruas expostas ao calor das máquinas, gastando quantidades enormes de energia para que alguns vivam separados do exterior mau e seco onde perece o resto de nós.
Se há coisa que eu não percebia no Trump, era como ele conseguia viver com o facto de poder estar a matar os seus descendentes ao renegar o aquecimento global e insistir em políticas que o aumentam. Isto porque não acho que ele seja burro para não ver o que aí vem e reconheço-lhe algum interesse na família.
Agora percebi! Ele acha que pode migrar os seus para Norte. Fecha as portas a quem vem do Sul mas compra a Gronelândia e quando o gelo derreter tem 2.000 milhões de km2 para construir torres e meter lá o pessoal da Flórida, Luisiana, Texas, Novo México, Arizona, Califórnia, etc etc etc...
Às vezes não sei se exagero ou abandono. Muitas vezes ao longo da minha vida, quer na minha relação com a família ou até amigos e na educação dos filhos, fico sem saber se hei-de insistir para fazer as coisas da forma que acho que é preferível ou se desisto e não me meto na vida dos outros. Quanto mais afastada é a relação, mais fácil é não interferir, mas na educação dos filhos as decisões são complicadas. Às vezes forço-os a fazerem coisas quando não queriam e depois agradecem-me, outras causo-lhes stress sem necessidade e ficam chateados, outras não insisto e depois ficam com pena de não terem feito nada. Na maioria das vezes não há questões, mas aqui e acolá a fronteira entre ser uma mãe pró-activa e uma mãe chata é muito ténue!
Estou cansada. A semana foi longa. Chatices atrás de chatices no trabalho. O noticiário não anda melhor e não se vê ponta de esperança para este mundo.
Estou farta de lidar com gente hipócrita e sem elegância, ou melhor, gente sem chá de camomila embora com bastante Earl Grey. Fui ensinada que a elegância anda de mãos dadas com a honra, a discrição e a tolerância. Mas de vez em quando tenho de aturar uns seres muito elevados, muito naturalistas e muito artistas que quando são contrariados com o dever, puxam da manga a arrogância do alto berço face à ralé. Sem nada ter a ver, recordo-me do manifesto anti-Dantas que na voz de Mário Viegas me preenche as lembranças de infância. Obra que eu tanto admiro mas que objetivamente é de uma falta de elegância sem igual! Depois vem-me à cabeça a imagem de Cristo e Gandhi e do difícil que é dar a outra face. Alguém ainda a dá por estes dias? Alguém ainda pára por um instante, antes de partir para a crítica mordaz, para perceber as razões do outro, ou até as doenças do outro? Não vejo ninguém assim em lado nenhum, nem vejo ninguém a procurar essa gente extraordinária que andará por aí perdida.
Ando farta das notícias, das greves de gente que tem menos formação que eu, que trabalha menos horas que eu e que ganha mais que eu. Provavelmente deveria deixar de fazer aquilo para que me formei e especializei. Ando cansada de pensar nisso. Respondem-me que não nos podemos nivelar por baixo, e que por eu achar que estou mal não devo impedir os outros de almejar melhores condições. Mas chateiam-me estes jogos de poder em que quem se lixa é o mexilhão. Estarei errada, já sei, mas ando cansada e a outra face é difícil de dar! A única coisa que me deixa contente nesta greve que se avizinha é a oportunidade de se poupar algum CO2 da queima do combustível e das pessoas se habituarem a reduzir viagens de carro ou optarem por transportes colectivos.
Vem aí o fim-de-semana. O tempo parece que vai melhorar e ando a fazer coisas, o que é sempre algo bom contrariamente a ser algo mau!
Que Deus prolongue a paciência a quem teve paciência de ler isto até aqui. Uns bons dias para todos.
No outro dia a andar na rua esbarrei-me com uma rapariga francesa. Imediatamente saiu-me um "desculpe" apressado e um olhar meio de lado. Mas do outro lado ouvi "pardon". Mal vi a rapariga, mas aquele "pardon" dito por aquela voz suave e encantada fez-me parar o raciocínio em que ía entretida. É que não há nada mais francês do que o tom daquela voz. E nisto fiquei a pensar nos tons de voz que nos identificam enquanto povos. Nas cordas vocais que nos distinguem tanto como a cor da pele. Os nórdicos têm mais facilidade com as notas agudas e os africanos chegam aos graves como ninguém. Mas será que já foi feito um estudo sobre o tom de cada povo!?