Se há coisa que me chateia nos outros é a arrogância. Principalmente em gente que leio ou ouço e pela qual tenho alguma admiração. Não me aborrece a arrogância em quem eu não reconheço qualidade.
Dito isto, já me enchi de desilusões em escritores, cantores, bloguers, humoristas, etc. Claro que uma desilusão não é uma desistência, é mais uma tristeza que fica. De vez em quando aparece alguém que diz com muito orgulho coisas do tipo "Não era capaz de namorar com quem não tem livros em casa" ou "Não se ama alguém que não ouve a mesma canção" ou "Não percebo porque o gajo X escreve numa revista tão má". Bem, são tudo palermices (o Carlos Tê que me perdoe). Algumas das melhores pessoas que conheço nunca leram um livro de fio a pavio e a nossa capacidade de amar não se restringe à nossa côr, seja ela política ou musical.
Mas quando me ponho a pensar nestas coisas, também chego à conclusão que a linha que separa a arrogância da opinião é muito ténue, e na maioria das vezes quem a traça não é quem fala, mas sim quem ouve.
Nunca digas nunca, é o que eu nunca digo a mim própria!
O clima está a mudar. A aquecer. À partida não parece assim tão mau. Compram-se uns ar-condicioados et voilá!
Mas será que as pessoas já pensaram no que dizem os regulamentos técnicos, esses documentos enfadonhos que são utilizados para se construirem cidades, estradas, fábricas, etc. Esses regulamentos têm como base um clima tipo, uma determinada temperatura média, uma determinada força do vento, uma determinada quantidade de chuva para cada zona. Isto quer dizer que se Portugal começar a ter um clima de monções, por ex., os nossos rios e as nossas cidades não têm capacidade para drenar a chuva e haverá gigantescas inundações, se vierem furacões, os nossos prédios não têm resistência e muitos vão cair, se estivermos em seca extrema as nossas captações de água não serão suficientes, etc, etc, etc...
Será que anda por aí alguém a preocupar-se com isto? E depois será que alguém nos dá a mão? Poderão os nossos filhos emigrar para o Norte? Ou veremos fronteiras fechadas como as vêem os africanos que estão a fugir da seca?
E a grande piada da coisa é que anda toda a gente a culpar meia dúzia, enquanto deviam andar a olhar para si mesmos e verem que a culpa é de todos, da maneira como escolhemos viver a nossa vida, do que produzimos e do que consumimos, e começarmos todos a tentar mudar.
Bom, espero que daqui a dez anos, possa ler estas palavras e me rir um bocado.
A cada grande incêndio tenho feito promessas para mudar comportamentos na minha vida, aqui, ali, acoli e acolá (assim mantenho a lista em dia). Tenho cumprido a maioria das promessas, o que já é alguma coisa. É como o governo, este ano está melhor mas ainda há trabalho a fazer. Para já não está a morrer gente (toc toc toc bate na madeira), as comunicações estão melhores, e estão tantos bombeiros, meios terrestres e meios aéreos no terreno que se arde uma fogueira a norte não sei se haverá alguém para apagá-la. Agora os comentadores de serviço mandam a culpa para o desordenamento florestal e a burocracia, porque pelos vistos houve gente que limpou o mato aqui e ali, mas não foi com plano aprovado. A burocracia tem costas largas e apanha com a culpa de quase tudo nesta vida.
Então este ano as minhas promessas são:
1. Comprar um carro elétrico usado para emitir menos CO2 (sim, eu sei, as baterias de lítio e coisa e tal, mas agora ando preocupada com o CO2, daqui a vinte anos se ainda cá estivermos preocupo-me com o lítio);
3. Plantar árvores de fruto no terreno que era quintal;
2. Deixar de comprar embalagens de leite achocolatado e sumo em pacotinhos para os miúdos levarem para a escola, e em vez disso levam um termo com leite achocolatado e sumo feito em casa (reduzo embalagens e palhinhas);
3. Deixar de comprar água em garrafões, e em vez disso comprar uma caneca com filtro e beber da torneira (poupo garrafões de água);
4. Deixar de comprar alimentos embalados em plástico no supermercado (compro mais no talho e compro frutas e legumes em sacos de papel ou sem saco);
5. Aproveitar alguma água da chuva para a rega.
O ano passado escrevi que pessoalmente pouco podia fazer, mas a verdade é que tenho vindo a fazer qualquer coisa e vou-me lembrando sempre de mais. Também tenho falado com as pessoas que estão à minha volta para mudarem alguns comportamentos e investirem em energias renováveis. Além disto tudo, quando tomo estas decisões fico mais descansada, começo a dormir melhor e gasto menos energia eléctrica do que quando tenho insónias...
Ando sem conseguir dormir. Por um lado é porque está demasiado calor e por outro é porque está demasiado calor. Agora dá-me para rir, mas de noite tem-me dado para chorar. Ando a sentir que isto da humanidade tem os dias contados. E embora durante o dia me convença que são exageros da minha cabeça e que tudo será como sempre foi, a verdade é que de noite acho que não. Às vezes a vida simplesmente acaba. Às vezes as espécies simplesmente acabam. Nós já acabamos com muitas e às vezes penso se não seria melhor acabarmos nós para sobreviverem todas as outras. Depois olho as notícias e vejo a humanidade feito baratas tontas! Que ironia serem as baratas o bicho capaz de sobreviver a uma explosão nuclear! Mas baratas tontas é o que eu vejo por todo o lado. Arde o mundo e a culpa é do governo, dos proprietários, dos tribunais, da burocracia, das comunicações e das árvores. No fundo toda a gente acha que a culpa é das árvores! Porque ardem e incomodam quem está de férias e dá má imagem a quem está a apostar no turismo. Arde em Portugal, na Grécia, na Califórnia e na Suécia (esse antro desgovernado!). Depois há quem diga que temos de nos ajustar a um mundo em mudança com as alterações climáticas! AJUSTAR! Há 7 bilhões de pessoas neste mundo. 7 bilhões de pessoas que vivem do negócio de se produzir cada vez mais. Pela primeira vez ouço os cientistas, esses anormais que ainda não inventaram uma maneira de converter CO2 em O2 (é só tirarem o carbono, carago! não deve ser assim tão difícil para quem inventou as viagens à Lua e os ipod, ipad e ifire...), dizia eu, ouço pela primeira vez os cientistas afirmarem que afinal o mundo pode aquecer mais rápido do que se esperava (estava na cara palermas!) e que há um ponto de não retorno que pode já ter sido atingido (batatinhas...). E o que é que faz o mundo? Vira a cara, claro! Isto de ser ecologista é fixe, já se dão palestras verdes na escola há mais de 40 anos, mas alguém pensar realmente que o que está em risco são as nossas terras, a nossa vida e a vida dos nossos filhos, isso ninguém pensa com seriedade. As televisões continuam com os programas da tarde, as notícias com o futebol, as redes sociais com as críticas, os blogues com as fraldas e os eruditos com as parvoíces intelectuais para as quais já não há paciência. A sério ninguém fala. Ai e tal, tal e coisa, toma umas pastilhas para dormires, vê umas séries para embrutecer e olha para o lado. Reza pelos teus filhos e boa viagem.