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Ri-te Rita

que a vida não rima

Ri-te Rita

que a vida não rima

Miss por um dia

O meu filho mais velho está a dar a Restauração, e no outro dia, entre um "passa-me a salada" e outro "água sff", estivemos a falar sobre o papel da rainha Luísa de Gusmão na independêndia, e, folclore ou não, do "melhor ser rainha por um dia, do que duquesa toda a vida". É uma frase que diz muito, não só sobre a História de Portugal, mas também sobre a condição humana :-).

Passado uns dias ouvi o Colbert a entrevistar alguém sobre o novo Big Brother Celebridades lá dos States, e uma das concorrentes era a miss universo 2015 que afinal 4 minutos depois era só miss e não do universo. E eu fiquei a pensar cá para os meus botões porque cargas d'água até me lembro da cara dela mas não faço a mínima ideia da cara da verdadeira miss universo 2015. Ou seja, hoje em dia, "melhor ser rainha por um dia, do que rainha toda a vida".

Ter filhos e selecção natural

Gosto muito de divagar sobre a "guerra" em curso entre a selecção natural e a medicina. E se à partida receio que a medicina possa estar a criar um ser humano mais imperfeito fisicamente, porque permite viver e reproduzir os imperfeitos, em cada ocasião concluo que a outra face da "guerra" é estarmos a criar seres humanos mentalmente mais resistentes. Exemplificando:

- Sou mãe e embora não viva em função dos meus filhos, acho que tê-los é o que de valor podemos fazer para o bem da humanidade. Uma réstia de esperança para cada um de nós. Então, embora aceite quem não quer ter filhos por opção e seja muito amiga de gente que pensa assim, na verdade não os compreendo e acho que não será nada bom para a humanidade se formos como eles. Ora, a medicina tem permitido que inúmeras pessoas com problemas de fertilidade passem a ter filhos, ou seja o "gene da infertilidade", que antes era travado simplesmente pelo facto dessas pessoas não terem filhos, está a transmitir-se em força para as próximas gerações. O que, sendo bom para tanta gente que conheço, é mau para a humanidade. Mas por outro lado, a medicina também está a permitir àqueles que não querem ter filhos, não os ter, ou seja o "gene do fraco instinto maternal/paternal" está a ser travado por força da seleção natural aliada à medicina. O que é óptimo para a humanidade, e daqui a 3 ou 4 gerações (perdoem-me os meus amigos de fraco instinto) só existirão seres humanos cheios de instinto maternal e paternal. :-)

Janelas

Ao chegar a casa passei por uma mulher sentada na janela ao sol. Pés e rabo no parapeito e cabeça encostada nos joelhos a descansar. Todas as janelas deviam ser largas o suficiente para uma mulher nela se sentar. Todos os dias deviam ter sol bastante para aquecer quem numa janela se senta. E todos os pintores deviam pintar mulheres em janelas ao sol. Mulheres ou gatos...

Histórias

Gosto muito de ler histórias, mas gosto mais ainda de as ouvir. Poder ouvir, mesmo que aos pedaços e interrompida pelo trabalho, um pouco da história de cada pessoa, é um dos maiores prazeres da vida.

Frases

Às vezes penso que as minhas recordações são feitas de frases soltas que me marcam. De quando em vez a conversar com um amigo ou conhecido, choca-me algo dito por eles e para todo o sempre essa pessoa fica colada a uma só frase.

Hoje passei o dia a pensar no que o marido de uma amiga minha, que é investigador em universidades por esse mundo inteiro, me disse já lá vão uns anos: "não consigo estar mais de 3 ou 4 anos no mesmo sítio a fazer a mesma coisa". Ora, além de na altura me ter sentido pequenina face ao à vontade com que ele conseguia trabalho interessante e bem remunerado aqui e acolá, fazendo-me questionar o que raio estou eu a fazer aqui, estática, neste ponto do globo (sentimento que logo desapareceu porque eu gosto mesmo é de aqui estar), fiquei a matutar nisso de se mudar de trabalho como quem muda de camisa. Há 3 ou 4 anos eu estava a fazer a mesma coisa que estou a fazer agora, só que agora faço-o muito melhor, com muito mais calma e muito mais segurança. E continuo a gostar de o fazer (na medida em que gosto de trabalhar, que não é assim tanta...). Como é que uma pessoa ganha experiência num trabalho altamente especializado se a cada 3 ou 4 anos mudar? Depois ponho-me a pensar que o mundo está a ficar assim como esse amigo meu, com necessidade de se transformar a cada ano, a cada mês, a cada dia. Como vamos todos aprender alguma coisa se estamos sempre a mudar. Tudo bem que quem muda vem com entusiasmo e traz ideias novas. Mas...as boas decisões para o mundo foram tomadas por pessoas com ou sem experiência no assunto? Claro que a internet é hoje uma enorme biblioteca e o conhecimento já não passa apenas de mestre para aprendiz, mas se as pessoas não ficam no ramo o suficiente para ver e sentir os resultados do que propõem, é como se retirassem as últimas etapas do método científico e vivessem sem conclusões. O que, pensando sobre o assunto, pode ser apenas uma má conclusão minha.

Gostar das pessoas

Muitas vezes me ponho a pensar nas razões que me levam a gostar de família e amigos. Se é porque gostam das mesmas coisas, ou porque gostam de coisas diferentes, se é por serem bons aos meus olhos, se é por gostarem de mim, ou outra razão qualquer. Já cheguei à conclusão que não há razões, gosto de gente muito diferente e a alguns eu consigo apontar duas mãos cheias de defeitos graves. Acho que quando a vida traz as pessoas para o meu lado, desde que eu não sinta que elas preferiam estar noutro sítio qualquer, eu trago as pessoas para a minha vida.

Cemitérios

Tinha decidido escrever sobre cemitérios, mas a verdade é que já não estou muito com muita vontade. Mas como também tinha decidido escrever mais aqui no blog, e mais ao correr da pena (ou das teclas), para combater o esquecimento e desenferrujar os dedos, vou tentar ver se consigo descrever o que andou pela minha cabeça:

Faz umas semanas que fui a um funeral a uma terra pequena longe daqui. Embora já tenha pensado que tudo o que se relaciona com a morte seria algo que me horripilaria, com a idade vim a constatar que não é o caso. Na verdade, horripila-me que se trate a morte com tanta frieza, como se morrer fosse cada vez mais algo higiénico e isento de emoção. E estamos tão embrenhados neste nosso acelerado mundo novo, que até já aceleramos a decomposição, e voltamos ao pó em menos de meia hora. De certa forma fazem-me falta as carpideiras que nunca conheci, o luto de um mês e os velórios em casa das pessoas. Casa-se em casa alheia, fazem-se festas em casa alheia, aprende-se em casa alheia, curam-se as doenças em casa alheia, trabalha-se em casa alheia e há até quem faça filhos em casa alheia...Eu, pelo menos, gostava de morrer em casa própria e que as pessoas se viessem despedir de mim a minha casa. Mas voltando aos cemitérios, eu, mesmo sendo esta ateia com dúvidas não praticante de coisa alguma, sou do partido da Maria da Fonte, e acho que os mortos se deviam enterrar no sítio onde se reza. Ou então em qualquer outro lado. Mas não gosto destas cidades em pedra e mármore que nos grandes centros se chamam de cemitérios. Não gosto das regras de inscrição do nome e data apenso a uma foto, como se fosse só isso a nossa vida, um cartão de cidadão inscrito em mármore numa parede em que é preciso uma escada para lhe chegar ao topo. De certa forma gosto da ideia de haver jantares no Panteão, gostava que houvesse celebração de vida em cima da evidência da sua finitude. Por isso gosto de passear em cemitérios de terras pequenas, nos cimos dos montes, ao lado das igrejas, batidos pelo vento e pelo sol, com campas rasas ou jazigos que contam histórias. Como a do jazigo com o vestido de noiva pendurado, a da campa com a escultura de uma moto, a do poema escrito pela filha ou a da cerca em madeira colorida a rodear um pequeno jardim com vasos de flores, albuns de fotos e caixas de vidro com cartas escritas à mão. E gostava de ver mais fotos nas campas, não só a das pessoas com a aparência com que morreram, mas também as outras, de quando eram crianças, jovens e adultos, porque quando morre alguém velho, morre também alguém que já foi novo.

Gentes

Gosto de ler sobre gente comum. Chateiam-me os feitos e desmandos de gente conhecida em excesso. Emocionam-me descrições de pescadores, professoras, combatentes ou senhoritas de outros tempos que enfrentam cada dia como se viver exigisse suor. E sempre invejei essa crueza na escrita, essa escassez de adjectivos com que os grandes escritores nos contam grandes vidas e grandes emoções.

No entanto eu não suo, nunca suei. Nem no corpo, nem na vida, nem na escrita. Por vezes penso que toda a água que tenho dentro de mim se liberta em lágrimas, de dor ou de ilusão. Talvez porque vivo dos olhos e não das mãos. Então fico mais uma vez invejosa, não da escrita mas da vida de outra gente. E bom, talvez seja essa a inveja correcta.

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