Poesia
Ando com pena da poesia. Como quem tem pena de uma rainha que já não reina sobre coisa nenhuma e apenas existe para colorir as páginas de revistas e revistas. Penso nos tempos em que a poesia servia para se contarem histórias. Os homens pediam-lhe o favor de memorizar a vida e ela enchia-se de rimas e ritmos para a cantar à capela. Mas veio a idade do excesso de memória e a poesia já não precisava da música nas palavras. E então, tirando o que de música tinha a poesia, só restou a poesia que ainda se agarra à música.